Diferentes fontes da história da Antropologia no Brasil apontam um consenso, embora um tanto arbitrário, de que Egon Schaden foi, junto com Herbert Baldus, Darcy Ribeiro, Eduardo Galvão e Roberto Cardoso de Oliveira, um dos cinco pilares da fundação da Antropologia brasileira.
Para nós, catarinenses, isto se torna especialmente relevante pelo fato dele ter nascido em São Bonifácio, a 80 quilômetros de Florianópolis, em uma comunidade rural que somente em 2004 teve sua primeira ligação ao mundo por meio de asfalto.
Nascido em 04 de julho de 1913, Egon Schaden era o mais velho dos onze filhos do imigrante alemão Francisco Schaden e da catarinense Catharina Roth Schaden. Após o ensino primário na Escola de São Bonifácio, sob a tutoria do próprio pai, Egon logrou estudar no Colégio Catarinense depois de uma longa batalha travada por Francisco Schaden para conseguir a única bolsa integral para o internato daquela instituição oferecida anualmente pelo governo da Província. Após concluir com destaque o ensino secundário, migrou para São Paulo onde realizou estudo superior e avançado seguindo a carreira de professor secundário e universitário. Tornou-se doutor em antropologia sob orientação do professor Emílio Willems a quem substituiu parcialmente na Universidade de São Paulo implantando a cátedra de antropologia naquela universidade – sendo reconhecido o seu pioneirismo no campo da antropologia no Brasil.
Desde cedo Egon Schaden (1913-1991) interessou-se pela questão indígena e tornou-se, segundo Bartomeu Melliá, um dos quatro grandes nomes no estudo da cultura Guarani, ao lado de Antonio Ruiz de Montoya (1585-1652), Kurt Nimuendaju (1883-1945) e Leon Cadogan (1899-1973). Ele próprio recebeu, por ritual de batismo, numa cerimônia conhecida como Nimongarai, entre os Guarani Nhandéva de Araribá, em 1947, o nome Avanimondyiá*– pessoa de fala forte.
Ele criou a primeira revista de antropologia do país (Revista de Antropologia, Departamento de Antropologia da USP) e participou da fundação da Associação Brasileira de Antropologia em 1953. Dedicou toda a sua vida acadêmica ao intercâmbio científico com colegas do mundo inteiro – tendo sido professor visitante em pelo menos dez países. Aposentado da Antropologia, ainda teve ânimo para apoiar a criação da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP implantando a disciplina de Antropologia da Comunicação – tornando-se assim um pioneiro da Antropologia da Comunicação no Brasil.
Ao longo da carreira desenvolveu pesquisa e publicou livros e artigos, mas entendia que o ensino de Antropologia, especialmente quanto à sua metodologia de pesquisa, era a sua verdadeira vocação. Nessa trajetória, acumulou material bibliográfico de valor inestimável que sempre esteve à disposição de quem se interessasse por pesquisar – e é este material, acrescido de cartas, cartões, fotos, negativos fotográficos, jornais, revistas e manuscritos – que compõe hoje o seu Arquivo Pessoal cuja conservação e dinamização constituem o mote para a estruturação do Instituto Egon Schaden, instalado agora, definitivamente, no Centro Cultural Egon Schaden, em São Bonifácio/SC.
* A grafia desta e de outras palavras em guarani é controversa e aparece na literatura de diferentes formas.
Fotos:
Arquivo Egon Schaden
Arquivo do Colégio Catarinense